Aqui estou...

Com tanto contratempo e depois de um mês e pouco estou voltando a escrever. Na verdade com um pouco de medo, porque com todo esse tempo fora fui e voltei ao momento mais difícil da minha vida. Depois de viajar a Galícia, Portugal e Barcelona voltei a Madrid na dúvida se devo ou não voltar ao Brasil. Já tentei colocar na balança os prós e contra e fica sempre empatado.

No meio de tantas dúvidas uma tempestade que me pegou de surpresa e sem munição para reagir. No dia 26 de junho fui ao médico fazer uma consulta que até então creía que seria normal, no dia 27 pela manhã fiz uma análise para voltar ao médico na semana seguinte. Estava no mesmo dia em casa preparando meu almoço quando a campanhia soou, atendi o interfone e era o médico que me atendeu no dia anterior, a noticia não foi pior, eu deveria correr ao pronto socorro para me internar porque as plaquetas estavam baixas, muito baixas (4 mil). Não tive como fugir, estava só, esperei minha mãe chegar do trabalho e lá fomos nós. Além das plaquetas baixas, tinha três gânglios no lado direito do pescoço, um no axilas esquerdo, hematomas nas pernas e muita dor atrás dos joelhos. No hospital repetiram 3 vezes a análise de sangue, levei mais picadas do que podem imaginar e isso acabou em um grande hematoma na mão direita. Fui internada e medicada com hemoglobina durante os quatros primeiros dias. As plaquetas subiram para 74 mil enquanto o normal seria de 200 a 400 mil. Domingo (05/07) fiz a cirurgia para tirar um gânglio para a biopsia, na segunda feira (06/07) fiz uma tomografia do corpo todo para saber se há mais glânglio e graças a Deus na terça-feira (07/07) os médicos me deixaram ir para casa. Volto ao hospital na próxima segunda-feira para saber dos resultados e do tratamento. Os médicos já pensam em uma suposta recaída de plaquetas por causa do linfoma de hodkin, não sei o que penso, mas sinto que podem ser que tenham razão. As plaquetas já voltaram a baixar novamente, no dia da alta eram 50 mil e me sinto muito cansada. Graças a Deus não tenho dores e estou recuperando muito bem da cirurgia. Sinto apenas uma leve dor na mão direita por causa do hematoma. Durante estes 13 dias recebi mensagens maravilhosas dos meus amigos e familia que estão distantes, recebi visitas no hospital de amigos que acabei de fazer. Meu telefone não me deixava só. Me senti bem por ter tantos amigos pensando e orando por mim. Mandando forças positivas, nem sei como agradecer tanto carinho. O que sei é que tolo aquele que não tem amigos e difícil seria passar por tudo isso sem eles e minha mãe que não me deixou um minuto. Tenho medo e me sinto impotente diante das circunstâncias mas não me entreguei, estou firme, forte e confiante, se tem que passar por quimioterapia, se tem que ficar careca, se tem que voltar sentir dores, nauseas VOU PASSAR.

O que mais quero é que tudo termine e que eu possa ir ao Brasil encontrar com os meus e poder voltar a fazer planos e realizar meus sonhos. Por enquanto estou aqui, estou indo ao parque todos os dias, sento embaixo das árvores e tento não pensar em nada, tento imaginar que tudo está muito bem e que é apenas mais uma pedrinha no meu caminho e que breve poderei desfrutar da vida sem sentir medo. Não quero ser um exemplo de vida ou de força, mas desejo que todos possam pensar mais sobre o que é vida... pensar no verdadeiro conceito de felicidade.

[]s
Eliana Guedes